22 de abril de 2012

É em noites como estas....


"É em noites como estas que tudo se torna mais difícil de camuflar. Sinto-me  como um soldado no meio de uma guerra a descoberto, completamente desprotegido e desarmado. Nem a noite cerrada me protege da guerra. Talvez (com toda a certeza aliás) porque a noite não me pode proteger do que se passa dentro de mim.
 O medo dos sentimentos, da saudade, da ilusão, do sofrimento, da solidão. O medo de me deixar abater por tudo o que me tenta devorar diariamente. O medo de me deixar levar pelo cansaço, o medo de desistir ou de não querer simplesmente continuar a percorrer este caminho.
Se tivesse um sótão próprio ia lá acima na esperança de encontrar uma lâmpada mágica cujo génio me pudesse conceder alguns desejos. Não lhe pediria riqueza ou felicidade, porque na minha opinião isso depende de cada um de nós e talvez por isso não faça sentido aquilo que iria desejar.
Apenas (apenas é uma forma pouco justa de descrever) lhe pediria que me levasse para junto de ti, fosse o que fosse de bom ou de mau que me levasse a ir para junto de ti, só aí queria estar. Teria saudades daquilo que deixo cá mas poderia lidar bem com isso. Quatro meses passaram e contínuo sem saber lidar com a tua ausência. Por isto sim, só aí queria estar.
Sacrificaria tudo e todos, perderia a estabilidade que tenho agora no emprego, perderia a companhia da minha família e dos poucos amigos que me restam, mas mesmo assim preferia estar aí. Se o génio não pudesse satisfazer este meu desejo poderia substituí-lo, se bem que não lhe chega aos calcanhares, pelo desejo de sentir menos saudades e dor.
E depois, provavelmente, pediria saúde para os que mais gosto e a concretização do meu sonho. Mas isso já era outro assunto.
Aquilo que estou a escrever é que não sei quanto tempo aguento mais sem te ver. Saber que cá vens sem me avisar, e que não te pude ver, corrói-me um pouco mais. Acredita que já tive ideias loucas como agarrar no dinheiro que tenho e ir-me embora daqui, viver aquilo que quero viver aí ao pé de ti mas, pelo sacrifício de que falei acima, fiquei-me pela grande vontade de usar as minhas férias e juntá-las ao agradável.
Visitar-te daqui a duas semanas é agora uma pequena grande vontade escondida no meu sótão. Mas o medo de que não exista lá génio da lâmpada e de encontrar apenas o vazio faz-me vacilar e ficar apenas por sonhar em ver-te.
Então vejo-te. Vejo-te muitas vezes aqui ao pé de mim como se nunca de cá tivesses saído. Vejo-te nos meus sonhos e, mesmo sabendo que estou a sonhar, usufruo ao máximo. Imagino-me a ter conversas contigo e relembro-me das que já tivemos, das situações que vivemos. Muita “gente” se pergunta: “Como é que ela ainda consegue gostar dele? “
É simples, Mon amour, “ela vai gostar sempre dele”. Independentemente de todos os erros que cometemos (tu mais que eu), eu vou gostar de ti, seja de que maneira for. És como se fosses sangue do meu sangue. "
Setembro, 2011
É em noites como estas que me orgulho daquilo que consegui superar e percebo quão feliz tenho sido nos últimos meses. O texto que escrevi em cima parece-me ter sido escrito por outro alguém que não eu. Conseguiste fazer-me esquecer.
É verdade que aquilo que temos deixou de ser suficiente para mim, mas espero que saibas que só o é porque o que sinto por ti é como uma planta num vaso pequeno, precisa de mais espaço para crescer e se tornar saudável. Eu adoro-te e não sei que mais hei-de fazer para que percebas isso.
Talvez até já tenhas entendido... Nesse caso sou eu que me confundo contigo. Sabes, todos os dias penso no que me disseste.  Sei que não o disseste para me magoar mas foi como um balde de água fria, que todos os dias tento aquecer. Tive medo. Ainda tenho.
Tenho medo de que isto tudo não passe de um momento, tenho medo de ter cometido o erro de confiar novamente em vão. Desejo com todo o meu coração que assim não seja porque gosto realmente de ti e detestava perder-te. És impecável. Já não se fazem muitos como tu. És teimoso, orgulho e etc mas eu adoro-te tal como és e não quero que mudes. Nunca.
Mudaste tanta coisa em mim....Sinto-me como um pedaço de gelo que derreteu. Há séculos que não confiava em ninguém como confio em ti. Fizeste-me voltar a sentir, a dizer o que sinto, a sonhar, fizeste-me voltar a sorrir.



Izan, O Segredo do Anjo Negro

Capítulo 8- continuação

Estava deliciada com o meu David. Apesar de me parecer bastante esgotado tinha tido energia para aguentar o resto da noite junto de mim. Regressamos de novo à cozinha, depois de um longo banho, e reaquecemos o jantar que eu tinha preparado.
Lembrei-me da sua promessa e não resisti a perguntar-lhe.
-Fica descansada. Já marquei uma consulta para breve- respondeu-me de imediato, como se esperasse que a qualquer momento lhe fizesse a pergunta.
-Ainda bem querido.
Lembrei-me da notícia que tinha para lhe dar, que guardara prepositadamente para o fim.
-David, tenho... Tenho algo para te dizer.
David levantou os olhos do prato que ensaboara e fixou-me.
-Falei com o Jarod hoje. Como sabes saí de Portland sem de facto resolver o que quer que fosse. Preciso de lá voltar. Decidir o que vou fazer com a casa, com o carro.
-Querida, podemos resolver isso daqui. A casa pode ser vendida, bem como o carro.
            -Eu gosto daquele carro.
-Nesse caso posso pedir que o vão buscar.
Seria possível que David estivesse a evitar que eu viajasse até Portland?
-Querido, eu tenho de fazer contas com Jarod. Embora contrariada, ele insistiu. E gostava de me despedir dos meus amigos, da cidade.
-Muito bem. Então no fim-de-semana viajamos até Portland.
-Viajamos?
-Sim, claro. Eu vou contigo- esclareceu.
-David não sei qual é o teu receio.- Tinha de haver uma explicação plausível. Ele nunca fizera questão de me acompanhar onde quer que fosse.
-Como?
-Parece-me que tens medo de que eu volte lá- coloquei as cartas sobre a mesa.
-Claro que não, Elizabeth. Gostaria apenas de te acompanhar, é claro.
-Está bem. Mas eu tenho de lá ir durante a semana, e tu tens o teu trabalho.
-De facto, não me dava muito jeito. Mas posso tentar arranjar um tempinho. Isto se quiseres que vá contigo.
-Claro.
-Muito bem. Vou tratar disso então.
Terminamos de lavar a nossa loiça e corremos, literalmente, para a cama. David adormeceu mal se deitou. Eu não tinha grande sono por isso decidi voltar a um velho hábito: a leitura.
Nunca tinha lido nada do género. Vampiros. Algo em que eu nunca acreditara, algo que nunca me atraíra minimamente. Pura fantasia. Depois de ter conhecido Ethan, embora pudesse ter sido tudo fruto da minha imaginação,  talvez devesse ter uma mente mais aberta.Dei por mim completamente envolvida.
Izan, O Segredo do Anjo Negro
Aqui vai a primeira parte do 8º capítulo:

"
David voltou a casa com um problema a menos. Felizmente o pai revelara-lhe que, tal como os humanos, os lobos também tinham um médico especializado na espécie. O que significava que, através desse mesmo médico, poderia fazer os exames.
Segundo lhe parecia tal poderia não ser possível. De qualquer modo, juntamente com Dammario Howard, arranjaria uma solução, mesmo que tivesse de arranjar uma falsificação qualquer que provasse a Elizabeth que estava tudo bem.
Então era isso, sem se dar conta, decidira que ia continuar a omitir-lhe a sua verdadeira espécie.
Encontrou-a na cozinha a preparar algo que cheirava bastante bem. Ao que parecia, Elizabeth não tinha dado pelo sua presença, uma vez que, nos seus ouvidos algo preto se fazia sobressair. Tecnologia, pensou David.
-Beth?
Ela continuava sem o ouvir, dançando ao ritmo do que parecia ser um Jazz. David aproximou-se para lhe beijar a cavidade do pescoço e Beth soltou um ligeiro grito antes de se virar para o ver.
-Olá, querido. Não vi que estavas aí.
David revirou os olhos e fê-la sorrir.
-Olá, meu amor.
-Então como correu o teu dia?- perguntou Elizabeth.
-Muito bem. Conseguimos fechar aquele negócio importante de que te falei e conseguimos também entregar a grande encomenda a tempo- David sorriu-lhe, com ar cansado.
-Isso são óptimas notícias! Parece que hoje temos vários motivos de comemoração.
-Algo que me queiras contar?- David enrugara a testa, curioso.
-Há sim. Finalmente consegui uma vaga! Vou começar a trabalhar na próxima semana.
-Que bom, querida.
David não ficava propriamente contente com o facto de saber que Beth teria menos tempo e passaria o dia todo fora de casa mas não se considerava machista e, por isso, não iria interferir na escolha da sua mulher. Talvez fosse bom o facto de Beth se distrair.
-Não me pareces muito feliz, querido.
-Impressão tua, cherie. Estou apenas cansado. Foi um longo dia.
-Hum, claro. É pena. Pensei que pudessemos comemorar as novidades. Prolongar a nossa noite.- Beth sorria-lhe carinhosamente e piscava-lhe o olho, passando-lhe a mão sobre o braço.
David soube de imediato a que se referia e não se negou a esse tipo de comemoração. Queria apoveitar todos os momentos que tinha com ela, como se fossem o último. Um dia, se algo não corresse bem, um desses momentos poderia mesmo ser o último. Puxou-a para si e levou-a nos braços, e voltou a amá-la como fizera no dia do seu regresso a Paris.
"

Boa leitura!!!

19 de março de 2012

Izan, O Segredo do Anjo Negro- capítulo 1

                                                                                       (terceira parte)


                                                                                                  Izan

"Izan não conseguia dormir. Não conseguia libertar-se da dor que o consumia. Kiara Sharpe morrera e ele nem sequer tentara salvá-la, deixara-a caída no chão e envolta no seu sangue. Como pudera ser tão cobarde?
Kiara era a sua mulher, quem amava com a sua vida e a qual escolhera para companheira. No entanto, o seu povo não aceitara tal união.
Os Yurok escolhiam os companheiros dos seus filhos logo que estes nasciam e Izan tivera a pouca sorte de não querer unir-se a quem os seus parentes haviam decidido. Conhecera Kiara há alguns anos atrás e ambos repararam um no outro. Não tardou a tornar-se oficial. Kyron Amaru, o seu pai, renegara Kiara e proibira Izan de a ver.
Izan não desistira. Afastou-se da sua tribo para se unir aos Salish. Desde então, Izan e Kiara não tiveram descanso. Kyron, tal como o filho, também não desistiu.
Durante todo o tempo em que estiveram juntos, o seu pai atacara os Salish e principalmente atentara contra a vida de Kiara e do próprio filho, vezes sem conta.
Izan sempre disse a Kiara que nunca iria resultar e que nada os iria separar. Ao olhar agora pela janela, anos depois, Izan percebeu que se enganara e que subrestimara Kyron Amaru, agora seu inimigo.
De volta ao presente, Izan não sabia o que fazer a seguir. Perdera Kiara, tinha fugido e abrigara-se em casa de uma humana num local que nunca tinha visto. Estava perdido, sentia-se á deriva, sem direcção.
Sabia que o melhor que podia fazer nesse momento era dormir. Olhou para a humana no outro lado da cabana e viu-a suspirar profundamente. Era tão diferente de tudo o que tinha imaginado. O seu corpo, o seu cheiro. Nem asas tinha.
Ficou a olhar para ela sem se cansar. Fazia-lhe lembrar Kiara. Sacudiu a cabeça ao perceber a comparação e interiormente culpou-se. Ninguém se parecia com Kiara, ela era única. Tinha sida a única que amara.
Elizabeth revolveu-se debaixo dos lençois uma e outra vez. Parecia perturbada. Aproximando-se com o cuidado de não fazer barulho, ajoelhou-se a seu lado. Parecia estar a sonhar."


                                                                                  ***  

Nota pessoal: Para quem não entendeu, esta parte foi escrita na perspectiva do personagem masculino, Ethan/Izan.

Izan, O Segredo do Anjo Negro

                                                                                Capítulo 1

                                                             ( continuação da segunda parte)


"(...)
- Desculpa. Não queria ter feito isto.
- Devias pensar duas vezes da próxima vez que o tentares fazer, pode ser que tenhas o azar de voltar atrás na minha decisão e dar-te de uma vez por todas com a raqueta na cabeça!
- Porquê? – perguntou.
- Porquê o quê? – questionei, piscando os olhos baralhada.
- Porque não o fizeste? Porque não me deste com ela?
Não lhe consegui responder. Dei voltas à cabeça até encontrar uma resposta decente.
- Não consegui fazê-lo. Não sou como tu.
- Como eu? Achas que era capaz de te fazer mal? – a voz tremeu-lhe e encarei-o, tentando decifrar o que lhe ia no pensamento.
- Não eras?
- Claro que não.
Eu não lhe respondi e ele não voltou a falar. Voltei-me para a bancada da cozinha e assim fiquei. Cinco minutos depois, enchi de novo a chavena de chá e virei-me para ver a razão do seu silêncio. De costas para mim, na zona da sala de estar, que se vi-a através da copa da cozinha, olhava pela janela. Avancei cerca de três metros e fiquei parada a observá-lo como que à espera de lhe ouvir os pensamentos.
Algo lhe chamou à atenção pois virou a cabeça na minha direcção e ficou a olhar-me. Senti o batimento do meu coração acelarar e tive de abrir a boca para recuperar o ar que me faltava. No meio da sala, sob a luz da lua, pareceu-me um anjo caído do céu. Até as suas asas de um negro carregado, que de início achei aterradoras, me pareceram belas.
Notei que também ele tinha aberto a boca mas para falar. Esperei o som da sua voz durante breves instantes e quando esta me chegou aos ouvidos o meu corpo estremeceu. Mas não era medo que sentia. Algo nele, talvez o seu ar assustador e bizarro, me atraía.
- Ethan Amaru – disse-me. Dei por mim a poucos centimetros do seu corpo e sacudi a cabeça, controlando os meus instintos e tentando concentrar-me no que me dizia.
- O quê? – perguntei de queixo caído.
- É o meu nome. Ethan Amaru.
- Elizabeth Vang Huber – expulsei rapidamente antes que ele me pudesse achar completamente parvinha.
- Lizzz – pronunciou, provocando-me um arrepio enorme. Nunca ninguém me chamara Liz.
- Na verdade é Beth, só para os amigos.
- Nós não somos amigos – respondeu-me, virando-se de novo para a janela e quebrando o momento que tão bem me soubera.
- Pois não – disse magoada com a sua frieza. - É melhor ir dormir. Amanha trabalho cedo.
Ethan balbuciou algo que não entendi e deixou-se ficar no mesmo sítio, absorto na paisagem da cidade. "    

18 de março de 2012

Izan, o Segredo do Anjo Negro

                                                                            Capítulo 1

                                                                           ( segunda parte )


Duas horas depois, deitada na minha cama, continuava sem entender a razão que me levara a guardar a raqueta no seu lugar e, sobretudo, a oferecer-lhe o meu sofá. Ele vacilara durante um momento, para depois aceitar a manta que lhe estendi. Como é obvio, recorreu à surdez fingida e não respondeu a nenhuma das minhas perguntas, razão pela qual me arrependi de não ter feito o que me pediu.
Por algum motivo, que ainda desconhecia e no qual pensava há hora e meia, não o tinha morto. Admitindo que usara a palavra “morte” com alguma frequência nessa noite, calei os meus pensamentos e decidi dormir.
Impedida pelo revoltear dele no sofá, fui até à cozinha preparar um chá, hábito que passara de insólito a frequente no último mês.
Em Junho desse ano, cansada do meu controlador e descontrolado patrão, pûs fim ao tormento que aguentara nos últimos anos e apresentara a minha carta de demissão.
Se por um lado me livrara da dor de cabeça que era aturá-lo, por outro tinha em mãos um problema ainda maior: estava desempregada. Rosemary Forbes, mais conhecida por Rose, a minha melhor amiga, prometera ajudar-me. Promessa essa que cumpriu ao arranjar-me a melhor agente da cidade, Janeth Miller. No momento perguntara-lhe onde estava com a cabeça para me arranjar um agente mas agora, passados seis meses, não podia estar mais grata.
Mudara-me de Tillamook, uma pequena cidade localizada no estado norte-americano de Oregon, onde nascera e vivera durante toda a minha vida, para Portland, A Cidade das Rosas, também no estado de Oregon, onde Jane conseguiu o meu novo emprego, no Portland Business Journal, e mais propriamente a minha vida.
- Acordei-te? – perguntou-me Aquilo, apanhando-me sentada na minha cadeira da cozinha a olhar para nada.
- Não. Não consegui dormir contigo a mexeres-te de um lado para o outro no sofá – respondi-lhe de mau humor.
- Não é propriamente o sítio mais confortavel para se dormir.
- Desculpa se não encontrei um sítio adequado para fazeres o teu ninho!- disse demasiado alto, observando o meu sofá. A manta que lhe emprestara estava totalmente enrolada.
- Ninho? – questionou-me surpreendido. – É isso que achas que eu sou? Um pássaro?
- Ora, deixa-me pensar. Hum, tens asas e voas, o que serás tu? Um cão?
Vi a fúria no seu olhar quando avançou para mim e me rodeou os braços com as suas enormes mãos, sacudindo-me com força. Não me mexi, nem sequer tentei livrar-me das suas mãos. Quando se apercebeu do que acabara de fazer, largou-me e recuou dois passos, deixando de me olhar.       

Nota pessoal : Por alguma razão em determinadas alturas da nossa vida aparece alguém que, sem sabermos porquê nem como, entra na nossa vida sem autorização, sem termos consciência de que se  tornará uma das pessoas mais importantes na nossa vida.

13 de março de 2012

O Segredo do Anjo Negro

     Capítulo 1
"Acordei alarmada com o estrondo que me tinha retirado do meu pesadelo. O que era aquilo? Havia alguma coisa ali. Ainda meia confusa pisquei os olhos três vezes sem efeito, uma vez que a dita coisa estava no mesmo sítio, e acendi a luz do candeeiro azul. Um bicho enorme com asas sentado no chão de joelhos olhava-me de olhos arregalados.
Estou a sonhar. Apaguei a luz cansada e encostei a cabeça na almofada à espera de voltar a dormir tranquilamente. Tal não aconteceu. Abri os olhos de novo e consegui ainda ver a figura no meio do quarto. Mas que raio? Não estava a sonhar!
Gritei o mais alto que pude, em vão. Naquela cidade os vizinhos não eram do tipo de se meter na vida dos outros como acontecia nas pequenas vilas. Pelo contrário, ali ninguém ligava a ninguém, por isso, se me tivessem ouvido teriam pensado que eu tinha tido um pesadelo ou que vira um rato e continuaram a sua noite descansada.
A tremer da cabeça aos pés, arranjei coragem e estiquei a mão na direcção do candeeiro. Acendi-o. Abri os olhos petrificada e vi que Aquilo continuava no mesmo sítio sem se mexer. Estava a chorar.
Ok, estava definitivamente a ter alucinações. Seria possivel Aquilo com aquele tamanho e força tal, que tinha subido cinco andares como uma aranha e ainda me partira a janela com toda a força, estar a chorar?
Esfreguei os olhos com as mãos e aproximei-me para o ver melhor. Apercebendo-se que o olhava, retribuiu-me. O que vi nos seus olhos assustou-me de tal maneira que me encolhi e recuei.
Lá fora, o silêncio nocturno foi interrompido pelo som estridente de uma sirene. Policia! Ele estava a fugir à policia. Tive vontade de saltar da cama e correr para a janela para gritar: ele está aqui! Não o fiz. Em vez disso, corri na direcção da raqueta de ténis e voltei para lhe dar com ela na cabeça.
Imaginei-me a fazê-lo e um arrepio percorreu-me o corpo ao pensar que ele poderia nem sentir dor, ter consciencia da minha insignificante vida e decidir partir-me o pescoço com uma só mão.
Foi então que ele falou:
- Meu amor! Como fui fraco!
Aquilo fala! Completamente estupefacta, vi a raqueta no chão e só depois me apercebi que a deixara cair. Ele virou a cabeça na minha direcção e levantou-se.
Convencida de que acabara de marcar a minha morte tentei recuperar o instrumento para me defender. No entanto, numa fracção de segundo ele deslocara-se até ela e tinha-a agarrado, colocando-se de frente para mim. A sua respiração ofegante e a raiva que apesar do escuro consegui ver nos seus olhos, fizeram disparar a minha adrenalina, que agora corria liberalmente dentro de mim. 
Quase jurei ter visto culpa no seu olhar antes de colocar a raqueta na minha direcção. Fechei os olhos e esperei pela pancada que me iria levar desta para melhor. Senti que esperava há demasiado tempo e nada. Ele não me matou.
Voltei a abri-los no momento em que ele me tocou na mão e disse:
- Mata-me! Peço-te, por tudo o que é mais sagrado mata-me!"

Nota pessoal: E aqui está a primeira parte do capítulo 1, escrito há cerca de um ano (Abril de 2011)... Um pouco dramática e tal, no entanto gosto de começar como deve ser e se a história não nos prende logo no início, quando prenderá? É um orgulho de facto ler isto depois de tantos meses de dedicação a esta história, mesmo com todas as dificuldades que se colocaram no meio. Este "livro" foi o meu escape num momento bastante difícil da minha vida, o qual ultrapassei e faz agora parte do meu passado. Boa leitura!

O Segredo do Anjo Negro

Prólogo


"Veio com que um fantasma pela noite dentro sem avisar. No escuro do quarto assemelhava-se a algo sem destino. Não sabia de onde teria vindo nem para onde iria. Porquê? O que teria acontecido?
Vacilou, procurando encontrar respostas perdidas no meio da tempestade que o perseguira e insistia em acompanhá-lo na sua mente. Meio baralhado deixou-se cair sobre o chão frio e húmido que molhara com a água escorrida do seu corpo. Onde está? Onde está?
Os seus olhos escuros brilhavam e percorriam o quarto como um meteoro a despenhar-se na terra. Um sentimento forte que a princípio não reconheceu, violentou o seu corpo sem resistencia. As pernas tremeram-lhe sem força e deixaram-se consumir. Medo. Dor. Não conseguira salvá-la!
Perdera-a. Para sempre."

Nota pessoal: (É um bocado estranho isto, também achei quando acabei de escrever. Mas com o que vem a seguir acaba por fazer sentido, acreditem. Não percam :D)

Novo cantinho d’escrita

Dada a situação ocorrida com o fotolog, que mudou da noite para o dia e não permite escrever mais de 300 caracteres(facto novo) e mais de uma publicação por dia (já não era recente), venho por este meio informar todos aqueles que me acompanhavam que me mudei para o blog.

Não é algo que me deixe agradada porque o blog tem muito pormenor para quem não tem mais nada que fazer, mas dado que já o tinha criado resta-me "arrastar-me" para aqui.

Vou começar por actualizar "O Segredo do Anjo Negro", para aqueles que o acompanhavam.
Vou publicar também uma história nova, bem mais recente, baseada na experiência de vida de alguém que me é querido e com muita criação minha à mistura, de seu nome "A história de Joana" (nome ficticio) ainda apenas com três pedacitos. Para os mais sensiveis aconselho que não leiam pois poderei descrever cenas chocantes :P A mais pura e dura realidade.


Boa leitura!

19 de maio de 2011

Dedicado aos meus dois meninos


Dei por mim a pensar nas minhas publicações. Até agora limitei-me a publicar as fantasias que escrevo, tudo irreal, excepto a carta que dediquei ás minhas doidonas :) . Faço isso porque são das poucas coisas que me levam para um mundo melhor, sem problemas.
Porque não escrever sobre aquilo que gosto, as pessoas que amo? Sempre pensei que não precisava de escrever sobre elas para que soubessem o quão importantes são para mim, no entanto, hoje decidi abrir uma excepção.
Não falo contigo, convosco, todos os dias, nem vos vejo. Não julguem por isso que não penso em vocês. Os trezentos quilometros que nos separam são apenas uma distância física, tenho-vos sempre comigo no meu coração e é assim que vou matando saudades.
Tenho pena, meu querido menino, de não te acompanhar e ver crescer, de não poderes vir ter comigo e dizer-me “Titi sabes o que aprendi hoje?” (com esse sorisso lindo que eu tanto adoro e esses olhos que me derretem) e me contares tudo o que aprendeste.
Tenho pena, maninha, de não me dizeres pessoalmente o quão feliz e ansiosa estás por essa nova fase da tua vida e de não te poder acompanhar por perto.
A verdade é que poderia fazê-lo através de um telefone ou pela grande invenção, a net. Mas falar com vocês e especialmente contigo, meu menino, dessa forma não me serve de consolo, apenas me deixa o coração mais apertadinho e com mais saudade de ouvir a tua vozinha fofa. Prova disso é que choro baba e ranho só de escrever e pensar nisto tudo.
Quero que saibas, e vais sabê-lo, que a titi te adora muito e que pensa em ti todos os dias. A ti, maninha, espero que saibas que também te adoro e que agradeço a paciência que tens para me aturar. Amo-te meu menino. Amo-vos aos dois.


"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" F.P

16 de maio de 2011

Carta Despedida

Se me atribuisses um último desejo não teria dificuldade em decidir, nem sequer teria de pensar duas vezes.
Tudo o que quero e preciso é de estar contigo uma última vez e sentir que tudo é como era antes. Poder dizer-te o quão importante és para mim, poder beijar-te e sentir o teu cheiro, esquecer todas as partes más da nossa história, ouvir da tua boca que me adoras (algo que dizias antigamente) e que me levas contigo, dizer que te guardo no meu coração a sete chaves e que não me lembro onde as pûs.
Mas isso é um sonho, tu preferes ser realista. Por isso só pedia que recuperassemos o respeito mútuo e a amizade que em tempos tivemos. Fazia tudo o que me pedisses pra recuperar isso. Não imaginas as saudades que tenho das nossas brincadeiras e das nossas conversas. Acredita que isso é o mais importante.
Em vez de tudo isso apenas posso ver-te partir, sem uma última palavra de despedida, sem um último toque ou olhar, sabendo que de mim só levas vontade de me esquecer. No entanto, o que não sabes é que levas uma parte de mim.
A vontade que sinto de te prender a mim e não te deixar ir consome-me a cada segundo, mais até que o amor que sinto por ti. Chamam-lhe egoísmo. Eu prefiro chamar-lhe amor.
O que tem acontecido ultimamente não é de todo os últimos momentos que quero ter contigo. Amo-te, meu amor.

12 de maio de 2011

Vagueio procurando aquilo que fui.
Apenas encontro sobras do que realmente sou.

O que era,
Ficou contigo.
Levaste.
(Mudaste?)

Horas a pensar,
Porquê?
Respostas.
É tudo o que procuro.

Não encontro,
Não existem?
Não. São inexistentes,
Tal como tu.

(22 Set. 2010)