18 de março de 2012

Izan, o Segredo do Anjo Negro

                                                                            Capítulo 1

                                                                           ( segunda parte )


Duas horas depois, deitada na minha cama, continuava sem entender a razão que me levara a guardar a raqueta no seu lugar e, sobretudo, a oferecer-lhe o meu sofá. Ele vacilara durante um momento, para depois aceitar a manta que lhe estendi. Como é obvio, recorreu à surdez fingida e não respondeu a nenhuma das minhas perguntas, razão pela qual me arrependi de não ter feito o que me pediu.
Por algum motivo, que ainda desconhecia e no qual pensava há hora e meia, não o tinha morto. Admitindo que usara a palavra “morte” com alguma frequência nessa noite, calei os meus pensamentos e decidi dormir.
Impedida pelo revoltear dele no sofá, fui até à cozinha preparar um chá, hábito que passara de insólito a frequente no último mês.
Em Junho desse ano, cansada do meu controlador e descontrolado patrão, pûs fim ao tormento que aguentara nos últimos anos e apresentara a minha carta de demissão.
Se por um lado me livrara da dor de cabeça que era aturá-lo, por outro tinha em mãos um problema ainda maior: estava desempregada. Rosemary Forbes, mais conhecida por Rose, a minha melhor amiga, prometera ajudar-me. Promessa essa que cumpriu ao arranjar-me a melhor agente da cidade, Janeth Miller. No momento perguntara-lhe onde estava com a cabeça para me arranjar um agente mas agora, passados seis meses, não podia estar mais grata.
Mudara-me de Tillamook, uma pequena cidade localizada no estado norte-americano de Oregon, onde nascera e vivera durante toda a minha vida, para Portland, A Cidade das Rosas, também no estado de Oregon, onde Jane conseguiu o meu novo emprego, no Portland Business Journal, e mais propriamente a minha vida.
- Acordei-te? – perguntou-me Aquilo, apanhando-me sentada na minha cadeira da cozinha a olhar para nada.
- Não. Não consegui dormir contigo a mexeres-te de um lado para o outro no sofá – respondi-lhe de mau humor.
- Não é propriamente o sítio mais confortavel para se dormir.
- Desculpa se não encontrei um sítio adequado para fazeres o teu ninho!- disse demasiado alto, observando o meu sofá. A manta que lhe emprestara estava totalmente enrolada.
- Ninho? – questionou-me surpreendido. – É isso que achas que eu sou? Um pássaro?
- Ora, deixa-me pensar. Hum, tens asas e voas, o que serás tu? Um cão?
Vi a fúria no seu olhar quando avançou para mim e me rodeou os braços com as suas enormes mãos, sacudindo-me com força. Não me mexi, nem sequer tentei livrar-me das suas mãos. Quando se apercebeu do que acabara de fazer, largou-me e recuou dois passos, deixando de me olhar.       

Nota pessoal : Por alguma razão em determinadas alturas da nossa vida aparece alguém que, sem sabermos porquê nem como, entra na nossa vida sem autorização, sem termos consciência de que se  tornará uma das pessoas mais importantes na nossa vida.