Capítulo 1
( continuação da segunda parte)
- Desculpa. Não queria ter feito isto.
- Devias pensar duas vezes da próxima vez que o tentares fazer, pode ser que tenhas o azar de voltar atrás na minha decisão e dar-te de uma vez por todas com a raqueta na cabeça!
- Porquê? – perguntou.
- Porquê o quê? – questionei, piscando os olhos baralhada.
- Porque não o fizeste? Porque não me deste com ela?
Não lhe consegui responder. Dei voltas à cabeça até encontrar uma resposta decente.
- Não consegui fazê-lo. Não sou como tu.
- Como eu? Achas que era capaz de te fazer mal? – a voz tremeu-lhe e encarei-o, tentando decifrar o que lhe ia no pensamento.
- Não eras?
- Claro que não.
Eu não lhe respondi e ele não voltou a falar. Voltei-me para a bancada da cozinha e assim fiquei. Cinco minutos depois, enchi de novo a chavena de chá e virei-me para ver a razão do seu silêncio. De costas para mim, na zona da sala de estar, que se vi-a através da copa da cozinha, olhava pela janela. Avancei cerca de três metros e fiquei parada a observá-lo como que à espera de lhe ouvir os pensamentos.
Algo lhe chamou à atenção pois virou a cabeça na minha direcção e ficou a olhar-me. Senti o batimento do meu coração acelarar e tive de abrir a boca para recuperar o ar que me faltava. No meio da sala, sob a luz da lua, pareceu-me um anjo caído do céu. Até as suas asas de um negro carregado, que de início achei aterradoras, me pareceram belas.
Notei que também ele tinha aberto a boca mas para falar. Esperei o som da sua voz durante breves instantes e quando esta me chegou aos ouvidos o meu corpo estremeceu. Mas não era medo que sentia. Algo nele, talvez o seu ar assustador e bizarro, me atraía.
- Ethan Amaru – disse-me. Dei por mim a poucos centimetros do seu corpo e sacudi a cabeça, controlando os meus instintos e tentando concentrar-me no que me dizia.
- O quê? – perguntei de queixo caído.
- É o meu nome. Ethan Amaru.
- Elizabeth Vang Huber – expulsei rapidamente antes que ele me pudesse achar completamente parvinha.
- Lizzz – pronunciou, provocando-me um arrepio enorme. Nunca ninguém me chamara Liz.
- Na verdade é Beth, só para os amigos.
- Nós não somos amigos – respondeu-me, virando-se de novo para a janela e quebrando o momento que tão bem me soubera.
- Pois não – disse magoada com a sua frieza. - É melhor ir dormir. Amanha trabalho cedo.
Ethan balbuciou algo que não entendi e deixou-se ficar no mesmo sítio, absorto na paisagem da cidade. "
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